terça-feira, 22 de julho de 2008

Jag såg ett träd... (Eu vi uma árvore)

Jag såg ett träd som var större än alla andra 
och hängde fullt av oåtkomliga kottar; 
jag såg en stor kyrka med öppna dörrar 
och alla som kommo ut voro bleka och starka 
och färdiga att dö; 
jag såg en kvinna som leende och sminkad 
kastade tärning om sin lycka 
och såg att hon förlorade.

En krets var dragen kring dessa ting 
den ingen överträder.


(Eu vi uma árvore que era maior que todas as outras
cheia de pinhas que não se alcançava;
Eu vi uma igreja grandiosa com as portas abertas
E todos que saiam eram pálidos e fortes
e estavam preparados para a morte;
E eu vi uma mulher com o rosto pintado
Que lançava os dados de sua própria sorte
E eu vi que ela perdeu.

E ao redor desenhava-se um círculo
Que ninguém ultrapassava.)


(Edith Irene Södergram, traduzido do sueco por Luciano R. Mendes)

segunda-feira, 21 de julho de 2008

noite branca

Noite em claro: mesmo com as luzes apagadas. Muitas perguntas, nenhuma resposta. A hora do lobo vem e vai, sobrevivo - mas não escapo ao medo, nem aos pesadelos (mesmo estando acordado). Quem será que morreu? Quem será que nasceu?
Ninguém que eu conheça: já estarei morto quando a notícia for dada. E os morangos silvestres continuarão crescendo, independentemente de mim. Ela possui muitos nomes: só um não fui em quem deu: espero que não seja Sara, quando eu for Isaak.

domingo, 20 de julho de 2008

after dark

É sempre no escuro que as coisas acontecem. É sempre possível perder-se no canteiro de morangos silvestres, quando não se pode ver um palmo diante de seu nariz: as memórias e os desejos constituem o mais complexo dos labirintos.

sábado, 19 de julho de 2008

Mais um copo de gin

Mais um copo de gin. E eu me despedaço: cada pedaço é um inteiro, uma dor em si. Falo mais do que deveria, menos do que gostaria. Talvez seja um jeito de demonstrar a solidão. É o máximo que é possível fazer, demonstrá-la. Pois o que sou, se não solidão? Retire-a e retiras meu todo. Um vulto kafkiano: eis o que sou. 

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Sereias

Mais poderoso que o canto, o silêncio. Mais poderosas que o silêncio, palavras doces. Mais poderosos ainda, olhares. Seus olhos cheios de uma fria crueza me fazem sangrar, seus olhos cheios de um afeto distante me fazem morrer.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Amor ao distante.

Nietzsche dizia que esse era o ideal do übermensch.
Talvez eu esteja mais próximo disso do que imagino: não consigo ter amores tangíveis. Não consigo ter amores. Sinto-os: queimam minha carne como se fossem ferro em brasa. Mas nunca os tenho. Ainda assim, humano demais, até o übermensch.
Preferia ser um deus, mesmo que um deus morto. 
Sera que é mesmo tudo questão de coragem? Ou será que a tempestade que uns chamam de destino e outros de acaso (sempre com os mesmos resultados, então de que importa o nome?) é mais forte do que a vontade, mais forte que o desejo, mais forte?

Sempre longe, mesmo perto. Sempre um abismo.

terça-feira, 15 de julho de 2008

oco

Embora. Longe. E dentro de mim um pedaço vazio. 
Choro de saudades, choro com medo das possibilidades: não quero perder nem a menor das partículas.

"Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um suspiro"
(T. S. Elliot, Homens Ocos)

sábado, 12 de julho de 2008

nunca Beatriz

Não tente viver como asceta, quando você é um pecador: santos são santos, os outros não. Não aceito o conceito de pecado, mas sou desesperadamente pecador. É parte de mim já. Homens piores já foram santos, não é por isso que serei condenado. Minha luxúria é minha diversão, minha soberba e meu orgulho meus espelhos.

Purgatório ou inferno: nunca Beatriz.