sexta-feira, 27 de junho de 2008

Lapela

Mesmo que invisível, minha lapela está cortada. 

Desculpe, Cezariny

"Dorme, dorme meu menino
Dorme no mar dos sargaços
Que mais vale o mar a pino
Do que as serpentes nos meus braços"

Desculpe, na verdade é tão fácil se afogar quanto ser envenenado.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

esterco

O amor é uma coisa que morre: morre e vira esterco, que serve de adubo para novos sentimentos. Uma das coisas tristes e desprezíveis do mundo é um ser humano obcecado com o esterco.

Por favor, descanse em paz: nem as moscas são tão vis.

domingo, 15 de junho de 2008

A noite

O ar gélido da noite me fez estremecer, chovia e ventava, eu sem rumo na escuridão. Só sabia que precisava encontrá-lo: algo no seu tom me preocupara, me doera. Eu tinha de ir, mesmo que a essa altura minhas pernas e minha mente não fossem confiáveis.

Lá ele estava, silencioso, com algo nos olhos. O tom foi solene: como em um funeral. Eu não soube o que dizer, não soube o que fazer. Em meio a irrealidade que eu me encontrava, as palavras ásperas, pesadas foram como uma palmatória, fazendo com que eu voltasse um pouco a realidade. Mas o que realmente penetrava fundo em minha carne, dilacerando-me em minha tolice era seu olhar.

Foi rápido e ele logo desapareceu novamente sob a lua. Mas deixou suas palavras, seus olhos e um homem derrotado: ele não me fez mal algum, só mostrou-me o que eu mesmo fizera. As cicatrizes que me fazia quando era mais novo não eram tão profundas quanto as atuais.

Você tem Bloom e Dedalus dentro de você, mas age como Rimbaud. A estação é o inferno. Não, não é assim que as coisas são. Esse não é você. Pense. Pediu desculpas por estragar a noite: não a estragou. Sem rumo, coração pesado. Mais uma vez ele parte e eu fico, agora com as lágrimas já derramadas.

 Minha alma desmaiava lentamente, enquanto eu ouvia a chuva cair suave através do universo, cair brandamente, como se lhes descesse a hora final, sobre todos os vivos e todos os mortos.

E, assim, eu aprendi a diferença entre vivos, mortos e amados.

sábado, 14 de junho de 2008

falhas

Memento mori: lembra-te de que morrerás. Qual a validade disso para um cadáver? Cada passo em falso é um passo de uma danse macabre. De quem é o corpo que habito? De quem é essa consicência que parece ser a minha, mas que eu sei que não é? São trágicas as histórias de homens que se desviaram de seus caminhos. Mas não lembro de ouvir muito sobre caminhos que se desviaram dos homens que os deveriam seguir. Deve ser aí, então, que reside a verdadeira tragédia. 
Lembro, a cada instante.

terça-feira, 10 de junho de 2008

cansaço

Cansaço: o peso da leveza sobre minhas costas: o uísque faz com que eu o sinta mais ainda. Não quero ternuras de novilho, preciso de alguém com quem dormir; não com quem fazer amor. Ou não, só preciso estancar o vazio: uma ferida que cresce.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Hemingway e Kafka

Se eu fosse Ernest Hemingway, a essa hora já estaria morto, pela arma de meu pai, pelo presente de minha mãe e por minha própria mão. (meu bilhete de suicídio foi escrito antes de eu nascer) 

Ou seja, se eu fosse Hemingway, nada seria além de um conto de Kafka.