quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Um conto de Roberto Bolaño

«Uma noite eu sonhei com um anjo: eu entrei em um grande e vazio bar e o vi sentando num canto, com os cotovelos sobre a mesa e uma xícara de café com leite à sua frente. Ela é o amor da sua vida, ele disse, erguendo os olhos para mim, e a força de seu olhar, o fogo de seus olhos, atirou-me através da sala. Eu comecei a gritar 'Garçom, garçom!' e então abri meus olhos e escapei daquele sonho miserável. Outras vezes eu não sonhava com ninguém, mas acordava em pranto. Enquanto isso, eu e Clara escrevíamos um para o outro. As cartas dela eram breves. Oi, como está, está chovendo, eu te amo, tchau. No começo essas cartas me assustavam. Acabou, eu pensei. Todavia após inspecioná-las com mais cuidado, eu concluí que sua concisão epistolar era motivada por um desejo de evitar erros gramaticais. Clara era orgulhosa: ela não escrevia bem, e ela não queria mostrar isso, mesmo que significasse me ferir por parecer fria."

Sobre dinheiro e presidentes

Todo meu desejo está morto.
A lascívia de outrora foi trocada por uma tristeza insondável. É como o dinheiro e a política: a instabilidade esperançosa dos presidentes e das moedas de outrora - quando eu era criança tivemos o Cruzeiro, Cruzado, Cruzado Novo, Cruzeiro Novo, Cruzeiro Real, URV e por fim o Real; e Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula era comunista - foi substituída por um desespero melancólico, mas estável.
Existe ainda um desejo, uma única coisa que quero.

sábado, 20 de dezembro de 2008

"As histórias de bebederias dos nativos, objeto dos relatos de todos os exploradores e até hoje comuns nas aldeias africanas, revelam e xistência de um vazio na vida das pessoas deste belo país. Insatisfações básicas ainda impelem os habitantes das aldeias africanas à autodestruição desesperada."

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

William Blake é um grande filho da puta. É só isso que eu digo. Mil vezes Bukowsky.

Noites regadas a gin e a inconsequência não são mais tão inconseqüentes. Não posso mais. É realmente e literariamente improvável: poderia desistir de meu nome - afinal nomes são improváveis e estúpidos - mas não desistir do que sou.

Todos os dias uma pequena morte - todas as noites: já fui, não mais sou. Sem desistir não consigo continuar.

Espero que isso não tenha o nome que mais temo.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Não se deve desafiar andarilhos visionários

Uma semana atrás eu pensei que morreria. Mas contrariando os clichês, não vi minha vida passar diante de meus olhos. Ao invés disso eu pensava em William Blake.
Não que eu seja grande fã de Blake: eu desprezo o romantismo. Mas andarilhos loucos e visionários me interessam. E, naquele momento, um de seus poemas não saia de minha mente.

Seria engraçado morrer no dia em que eu contrariei minha natureza, e desafiei William Blake.


terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Sete razões para a misantropia

1- As pessoas falam demais. Não dizem apenas o essencial, mas alongam-se em discursos semi-infinitos a respeito de trivialidades tão ou mais desinteressantes que suas próprias vidas.
2- As pessoas são desinteressantes, e recusam-se a percebê-lo.
3- Hipócritas que acreditam em suas próprias mentiras não servem para nada além de bucha de canhão ou comida de cachorro; e a maior parte da humanidade é assim.
4- Dão importância demais a objetos mais estúpidos que eles, como televisões e computadores.
5- Revestem a estúpidez de uma aura de genialidade, e ambicionam essa estupidez disfarçada.
6- A maioria das pessoas acha lindo ser 'culto', mas só se atreve a assistir comédias e a ler best-sellers.
7- Best-sellers aliás que elas acham que realmente contém algo de verdadeiro e importante, e não apenas montes de bosta unidos em histórias ruins e composições ridículas.

PS: Assim eu começo a escolher um dos dois caminhos da velhice, o do velho amargo. Mesmo que talvez seja cedo demais para isso.