segunda-feira, 31 de março de 2008

calças?

Decidi me cuidar. Tomar conta de mim. Preciso ser homem e me encarar. Sabe, não vou deixar minhas agonias tomarem conta. Se eu deixar, logo vou estar por aí, andando vestido só de camisa, cuecas, meias, gravata e sapatos. Sem calças.

Quando um homem abandona o uso de suas calças, quer dizer que está no fundo do poço. O próximo passo é enforcar-se.

domingo, 30 de março de 2008

Ilógico

Pura e simplesmente ilógico: para que eu consiga ser 'feliz' e viver em sociedade, dão-me pílulas mágicas. Elas, no entanto, tornam-me cansado, apático. Assim, eu não fico feliz. Claro, não fico deprimido ou destrutivo também - nem qualquer outra coisa socialmente inaceitável. Mas não fico em condições de realmente viver.

sexta-feira, 21 de março de 2008

ilha

Uma semana andando com minhas próprias pernas. Uma semana queimando em meu próprio fogo.
E ainda assim, eu sequer tenho forças pra ser tolo...
A memória é algo impossível. O tempo apaga todas as lembras, obscurece e confunde os fatos. Já nem sei meu nome. Já nem sei quem sou - ou quem fui. A única coisa que me marca são minhas cicatrizes. 79 delas. Mais as que não posso ver - que ninguém pode.
São meu fardo, meu legado: a marca da minha solidão mesmo em meio a uma multidão. É como se gritassem para mim: 'Nenhum homem é uma ilha, logo não podes ser homem!'


O que sou então?
Algum animal vil e covarde.

quinta-feira, 20 de março de 2008

um fragmento de Jabès

"O cego conheceria

a doçura primitiva

de ser inteiramente noite?"

quarta-feira, 19 de março de 2008

Fumaça

Noite. Noite escura e adiantada. Estou coberto pela escuridão. A fumaça adentra meus pulmões, através da peça de madeira. O nome é cachimbo. O nome é o ser.
Palavras não importa. A música é irrelevante. Fujo do silêncio, e fujo da luz do dia: eles tornam meus medos mais terríveis, minhas alegrias mais terrenas.
A fuligem me acaricia por dentro, esse interior tão calejado e alquebrado. Continuo andando. A fumaça. Continuo andando.
A
fumaça.
Sempre, só
a fumaça
é
real
mesmo sendo
nada.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Algumas linhas são facilmente transpostas. Já não tenho mais tanta vida em mim.

A ausência de remorso pode ser um sinal de culpa?

quinta-feira, 13 de março de 2008

Cure for Pain

"Where's all that money that I spent
I propose a toast to my self control
You see it crawling helpless on the floor
Someday there'll be a cure for pain
That's the day I throw my drugs away
When they find a cure for pain"

Talvez não haja cura para a dor, mas é hora de jogar as drogas fora. E aprender auto-controle.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Futuro

Decidi meu futuro: a Legião Estrangeira Francesa me aguarda.

domingo, 9 de março de 2008

Uma noite

O gosto amargo da bile permeia minha boca. O vômito que cobre meu corpo, minhas mãos e até mesmo meu rosto me enoja. Sozinho, no chão do quarto. Quem se importa? Eu é que não. Definitivamente.

A sensação é pior. Como se a sujeira fosse sangue. Élan vital que me foi tomado pela tinha estupidez. Ouço o chamado do escuro em mim, mas não atendo. Não tenho forças nem para ser fraco.

Uísque. É esse o caso. Como sempre, é ao uísque que eu me entrego, numa orgia desesperada de tolices e tristezas. Qual o sentido da vida? Descendente. Decadente. O nada.

O homem só é feliz quando morre. Duvido. Nem assim.

sábado, 8 de março de 2008

Quer saber? Eu gostaria que o mundo caísse na minha cabeça.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Sob as rodas de Juggernaut

Hoje descobri ter usado recentemente uma palavra maldita. Uma palavra que prometi nunca mais proferir, cujas sílabas jurei nunca mais beijar. Eu fiz uma promessa, e quebrei.

Tive sonhos com a chuva, e acordei sem rumo. O mundo é etéreo: tudo que toco parece gelado, todos os sons têm um mesmo tom, todas as cores são iguais, todos os sabores pálidos. Só uma memória me parece real. É uma pele, uma boca, um cheiro, um toque, um rosto. Não fui feito para ternuras, não fui feito para romances: fui talhado para a guerra, sou um solitário. No entanto, sucumbo a minha própria humanidade. Um tolo.

Sinto-me como se estivesse sob as rodas de Juggernaut. Pelo menos isso me faz escrever versos - versos que nunca verão a luz, mas, ainda assim, versos.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Sonho

Sonhei com um poema. Não, eu não era poeta - mas tampouco era misógeno. Apenas foi um sonho com um poema. Conheço-o. É de O'Neill. Não, não é um poema - são só alguns pedaços.

'e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti.'

E isso é tudo. Sempre a poesia.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Porém, com menos sombras.

Depois da tempestade, a calmaria. Não, nunca. A tempestade nunca termina. Apenas me acostumo ao mar revolto.

Desconstruo-me, como se fosse Gordon Pynn. Porém, com menos sombras. Menos sombras. Mil alegrias não me deixam tão alegre quando a negação de uma miséria. Penso em Coetzee. Penso em mil coisas.

Abismo portátil, em forma de coração.*


*Frase de Fernando Ribeiro

domingo, 2 de março de 2008

Exílio

Eis o que preciso. Exilar-me. Mas pra onde? Sou um estrangeiro em toda parte, minha terra me é estranha.
A crueza dos sentimentos em mim é que castiga. Preciso exilar-me de mim mesmo. Minh'alma me cansou.

Repetição insignificante

Rubrosuave, malteamargo. Uma noite, uma lua, várias estrelas, uma estrela. Estava frio, mas não muito. Em cinco, caminhamos até a praça. Meio caminho até o cemitério. Tinha esperanças? Não, eram só tolices. Mas como sempre, deixo-me levar. Não me recordo de uma vez que tenha resistido à tentações. Seria esse um sinal de fraqueza de caráter? Um pecado? Na metade do caminho, resolvemos voltar. Ébrios, agora. Os outros, ao menos. Eu estou mais sóbrio do que gostaria. Sempre.

No caminho, penso sobre o motivo de minha tolice. Eu já tenho o espírito curtido pela vida, não deveria ser assim.

'A lua está bonita. Mas as luzes da cidade matam a noite.'

Gosto do som. Frases poéticas; mas mais do que um sentido, palavras são sons: o modo como sobem e descem seus tons, acariciando os ouvidos com ternura, causam-me prazer. Sentamos-nos, a pequena não está bem. Mais por suas agonias do que pelo vinho. Eu sei como é, eu digo. E sei mesmo. Quantas vezes já não me encotrei assim, abandonando a mim mesmo enquanto por dentro morria em nome de outra pessoa? Um mártir, mas nunca um jesuíta. Importar-se é sofrer. Ela vomita. Logo, o outro também.

Sinto-me responsável. Eu sou o mais velho, deveria ter tomado conta deles. Os corações que quebrei, as vezes que neguei ajuda, as vezes que fui fraco. Agora, mais uma culpa para juntar-se a essa galeria.

Para casa: entramos todos em meu carro, e a jornada é curta. Penso no que achava que devia ter feito - como seria melhor ter uma decepção à não ter feito nada. Haveria ainda tempo? Sempre há tempo na vida, dizia um poeta. Ou seria o povo? Não me recordo. De qualquer modo, não existe poeta maior do que o povo. Folkgeist.

Sem palavras - são insignificantes, apesar dos sons - tento ser o homem que não fui. Sem palavras - são insignificantes quando se quer realmente dizer algo - sou lembrado do motivo de meus medos.

Envio: a vida inteira, uma repetição insignificante.