quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Um conto de Roberto Bolaño

«Uma noite eu sonhei com um anjo: eu entrei em um grande e vazio bar e o vi sentando num canto, com os cotovelos sobre a mesa e uma xícara de café com leite à sua frente. Ela é o amor da sua vida, ele disse, erguendo os olhos para mim, e a força de seu olhar, o fogo de seus olhos, atirou-me através da sala. Eu comecei a gritar 'Garçom, garçom!' e então abri meus olhos e escapei daquele sonho miserável. Outras vezes eu não sonhava com ninguém, mas acordava em pranto. Enquanto isso, eu e Clara escrevíamos um para o outro. As cartas dela eram breves. Oi, como está, está chovendo, eu te amo, tchau. No começo essas cartas me assustavam. Acabou, eu pensei. Todavia após inspecioná-las com mais cuidado, eu concluí que sua concisão epistolar era motivada por um desejo de evitar erros gramaticais. Clara era orgulhosa: ela não escrevia bem, e ela não queria mostrar isso, mesmo que significasse me ferir por parecer fria."

Um comentário:

Camilla Di Lucca disse...

O que aocnteceu para seu blog se pintar em cinza?
ahaha e gostei muito deste ultimo...
Pode parecer confuso. E no fundo é perfeitamente direto!
saudades!