Existe outra maneira mais brutal de dizer a mesma coisa. Na verdade, há centenas de maneiras: podia passar o resto da vida a enumerá-las. Mas a maneira mais brutal é dizer que tem medo: medo de escrever, medo de mulher. Pode fazer caretas para os poemas que lê na Ambit e na Agenda, mas pelo menos estão lá, impressos, no mundo. Como pode saber se os homens que os escreveram não passaram anos se contorcendo, tão exigentes quanto ele, diante da página em branco? Contorceram-se, mas finalmente se dominaram e escreveram o melhor que puderam o que tinha que ser escrito, e enviaram, sofreram a humilhação da rejeição ou a humilhação igual de ver seus desabafos em letras frias, em toda a sua pobreza. Da mesma forma, esses homens devem ter encontrado uma desculpa, mesmo fraca, para falar com uma ou outra garota bonita no metrô e, se ela virou a cabeça ou fez uma observação desdenhosa a uma amiga em italiano, bem, devem ter encontrado um jeito de sofrer a recusa em silêncio e no dia seguinte devem ter tentado de novo com outra garota. É assim que se faz, é assim que o mundo funciona. E um dia eles, esses homens, esses poetas, esses amantes, teriam sorte: a garota, não importa o quão sublime a sua beleza, responderia, e, uma coisa leva a outra, suas vidas seriam transformadas, a vida de ambos, e acabou-se. O que mais é exigodo além de um tipo de estúpida, insensível obstinação, como amante, como escritor, ao lado de uma disposição de fracassar e fracassar de novo?
O problema dele é que não está preparado para fracassar. Quer um A ou um alfa ou cem por cento em todas as tentativas, e um grande Excelente! na margem. Ridículo! Infantil! Ninguém precisa lhe dizer isso: pode ver por si próprio. Mesmo assim. Mesmo assim não pode agir. Não hoje. Talvez amanhã. Talvez amanhã tenha vontade, tenha coragem."
-J. M. Coetzee, em Juventude
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