domingo, 15 de junho de 2008

A noite

O ar gélido da noite me fez estremecer, chovia e ventava, eu sem rumo na escuridão. Só sabia que precisava encontrá-lo: algo no seu tom me preocupara, me doera. Eu tinha de ir, mesmo que a essa altura minhas pernas e minha mente não fossem confiáveis.

Lá ele estava, silencioso, com algo nos olhos. O tom foi solene: como em um funeral. Eu não soube o que dizer, não soube o que fazer. Em meio a irrealidade que eu me encontrava, as palavras ásperas, pesadas foram como uma palmatória, fazendo com que eu voltasse um pouco a realidade. Mas o que realmente penetrava fundo em minha carne, dilacerando-me em minha tolice era seu olhar.

Foi rápido e ele logo desapareceu novamente sob a lua. Mas deixou suas palavras, seus olhos e um homem derrotado: ele não me fez mal algum, só mostrou-me o que eu mesmo fizera. As cicatrizes que me fazia quando era mais novo não eram tão profundas quanto as atuais.

Você tem Bloom e Dedalus dentro de você, mas age como Rimbaud. A estação é o inferno. Não, não é assim que as coisas são. Esse não é você. Pense. Pediu desculpas por estragar a noite: não a estragou. Sem rumo, coração pesado. Mais uma vez ele parte e eu fico, agora com as lágrimas já derramadas.

 Minha alma desmaiava lentamente, enquanto eu ouvia a chuva cair suave através do universo, cair brandamente, como se lhes descesse a hora final, sobre todos os vivos e todos os mortos.

E, assim, eu aprendi a diferença entre vivos, mortos e amados.

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